segunda-feira, julho 06, 2009
 
::009 - a partida



assisti a este filme no meu aniversário. foi uma experiência estranha.

é um filme bastante familiar para mim. lembrou-me algumas vezes das coisas que minha mãe costuma falar e fazer. é bastante delicado embora tenha um desenrolar um pouco óbvio. beira um bom melodarama. gostei muito da construção dos detalhes.

como diria bazin: "é um filme de uma civilização inteira".


domingo, julho 05, 2009
 
:: 008 - o lutador



parece um filme silencioso, mas é que não há muito o que dizer. é a vida de um fodido. me lembra às vezes steinbeck. muitas boas atuações.


 
:: 007 - phoebe in wonderland



pelas minhas contas devo ter atrasado uns 150 filmes. não vou conseguir alcançar a meta e nem sei se vou ter alguma constância. mas vale a tentativa.

* * *

é um daqueles bons filmes independentes americanos. tem uma direção delicada e trata a relação de um menina com o mundo através de uma peça de teatro. acho que simplifiquei demais. a menina está muito bem assim como a mãe. a personagem diretora de teatro é encantandora.

achei bastante bonito.


terça-feira, janeiro 06, 2009
 
um filme por dia

#006 - paranoid park



comecei gostando do tom do filme. a trilha sonora cheia de ruídos me lembrou uma bebedeira. minha cabeça fica meio assim como se fosse uma trilha sonora de ruídos. daí o veio um monte de câmeras lentas e depois um clipe do elliot smith muito bom mas que eu não sei se acrescentou. e daí mais câmeras lentas.

uma coisa que me intrigou é porque escrever em um caderno numa época eletrônica. podiam ter datado, aí o caderno faria mais sentido.

o roteiro é bem costurado, mas focar somente nele é meio esquisofrênico.

daria um bom curta.


segunda-feira, janeiro 05, 2009
 
:: um filme por dia

#005 doutores da alegria



acho que já vou mudar esse lance de um filme por dia para um filme por semana. a promessa já está causando grandes estragos a minha rotina e é melhor mudar agora que depois. ou não?

senão a gente cai numa picaretagem foda. por exemplo, o filme de hoje: doutores da alegria.

eu já havia visto parte deste filme no canal brasil e acabei terminando ontem no canal comunitário (ok, confesso, zapeio pacas). filme a prestação pode?

bom, falando do filme. eu simplesmente adorei. claro que soa uma puta propaganda de uma ong e tals. todo ele tem leis de incentivos a cultura, mas é bastante coeso e claro a questão tratada ali: a figura do palhaço.

é uma das figuras mais interessantes do imaginário da humanidade. um anti-herói com a complexidade de um filosófo e a inocência de uma criança. aliás, muitos filosófos acreditam que o olhar da criança é o mais puro, livre de preconceitos, logo o mais propenso a filosofia.

e num mundo cartesiano que vivemos, o palhaço realmente é um subversivo. lembro-me de uma turma de artes cênicas da eca/usp que fizeram uma temporada de clown. eles me contavam que a máscara do palhaço era um amplificador da alma e a conclusão era que somos todos ridículos, só que no palhaço, ridículo amplificado.

gosto desta figura desde que me apaixonei por fellini e giuliletta masina. "la strada" é lindo de morrer e ninguém me convence que cabíria era uma palhacinha vestida de puta.

o mais dificil em "doutores da alegria" é o ambiente hospitalar que eu simplesmente abomino. ainda mais quando crianças são as pacientes. é difícil ver encarar. com certeza, eu não tenho a mínima estrutura para ser um palhaço. sou muito fraco.

as histórias são belas. acho que a morte também é uma forma de amplificação de sentimentos. perto dela, tudo é muito mais intenso. destaco três cenas: dois atores contando sobre como convenceram um amigo que morava na frente do hospital a se vestir de gnomo; a cantoria de uma dupla de palhaços até o suspiro final de um garoto com leucemia e a cena em que o palhaço está em vários outros ambientes como escritório, bolsa, etc.

depois, num momento gondry-palhaço, imaginei um ambulatório cheio de palhaços doentes e crianças vindo reensiná-los a ter alegria.


domingo, janeiro 04, 2009
 
:: um filme por dia

#004 - efeito dominó




eu esperava algo do tipo "jogos, trapaças e dois canos fumegantes" ou "snatch - porcos e diamantes". filmes sacados, ageis e cheios de humor negro. sotaque inglês engana pacas.

ou um filme sobre um plano genial para se roubar um banco.

mas "efeito dominó" na verdade são dois filmes. um sobre um assalto tosco a banco. outro sobre intrigas palacianas e chantagens.

tenso na medida certa.


 
:: um filme por dia

#003 ensaio sobre a cegueira


a questão agora é adaptação de um obra literária para o cinema. 90% dos casos o livro é melhor que o filme, muitos dizem. eu particularmente prefiro encarar como uma leitura e não uma adaptação.

hichcock e kubrick eram caras espertos: sempre adaptavam livros que não fizeram muito sucesso. até glauber rocha pensou em adaptar "a falecida" de nelson rodrigues e chegou a conclusão que teria um conflito de "gênios'.

sim, eu li o livro e achei foda na época. adolescente e muito impressionável. não sei se teria a mesma impressão aterradora que tive na época. tanto é que "todos os nomes", o livro seguinte de saramago, foi como uma rendenção.

mas é que esse tal de fernando meirelles é um cara foda. desde "cidade de deus" mostra que é um ótimo diretor de cinema. o filme é forte, denso e fodástico. tudo bem que muita coisa do livro se perdeu, mas como eu disse, vejo como uma leitura do livro.

e talvez seja isso que me causa estranhamento neste filme: a leitura de meirelles. em "cidade de deus" e "o jardineiro fiel" temos o melhor diretor de cinema do brasil no quesito linguagem cinematográfica, na gramática, no feitio. quando temos evidentemente uma leitura em que o diretor se posiciona causa um certo estranhamento porque não haviamos visto tão explicitamente.

o tal cinema de autor.

outra coisa que me chamou atenção é assistir a cidade de são paulo no filme. acho que foi a primeira vez que a vi assim desfigurada, sem identidade mesmo reconhecendo o que era cada lugar, como se os espaços também perdessem os nomes.

e a cena final da casa me faz pensar quem é esse saramago que desdenha e humaniza o homem?


sexta-feira, janeiro 02, 2009
 
:: um filme por dia

#002 - Control



o foda de cinebiografias é que você já sabe como acaba, principalmente quando o biografado já morreu. e a maior dificuldade de fazer uma cinebiografia de um artista é fazer com que o cinema também seja uma releitura de sua obra.

uma outra questão de cinebiografias é a sua cota de realidade histórica: em um filme de ficção o quanto de realidade poética se pode ter para se manter a coerência a uma obra já conhecida? a invenção de partes da história é plausível?

um dos filmes mais bacanas que já vi chama-se "de volta a terra do nunca" no qual é retratado a feitura de uma das histórias mais famosas do mundo "peter pan". a invenção é declarada.

em control, todavia, a coisa não é tão bacana. ian curtis é uma figura emblemática do rock inglês pós-punk. o seu suícidio tem o lado romântico, um ser liberto que morre jovem e belo, encontrando assim sua imortalidade. personagem corriqueira na história do rock.

eu particularmente curto bastante o joy division e muito o new order. rock simples e incisivo.

mas o filme é mto lento para uma história que talvez não pedisse isso. é impossível não compará-lo a "24 hours party people", filme de 2002, que também conta a história do pessoal de Manchester mas através do olhar de tony wilson, um repórter famoso que tinha um programa que revela novas bandas.

control é um filme denso e chato. só em alguns momentos temos cenas que revelam o que se passa na mente do personagem central. a música serve como cola para justificar algumas passagens como a doença, a infelidade, etc. mas é isso que soa: uma cola. somente a construção do suícidio é bastante interessante e faz o filme ter um fôlego no terço final. a melhor cena é a de ian curtis assistindo à tv enquanto espera sua esposa. na tv há um caminhão levando uma casa embora e deixando um espaço vazio. no fundo, uma música tosca quase um jingle. e corta para ian atônito a ponto de chorar.

onde estão os demônios de ian curtis que o fizeram se matar? no filme a gente sabe que ele está deprimido, nos comove o ser humano sem saída. mas como se chegou a isso?

apesar de tudo, o filme traz de novo aquela velha questão: onde estão os poetas do rock n roll?

deixa a gente pensando enquanto ouvimos o que anda tocando no rádio... transmission!



quinta-feira, janeiro 01, 2009
 
:: um filme por dia

#001 jcvd



eis a minha primeira resenha de resolução de ano novo. talvez as pessoas esperassem algum obra fundamental de filmografias relevantes, mas com a promessa de assistir 365 filmes em um ano, este é bem interessante e já quebra o paradigma de que sou um cara bacana.

acho que todo moleque dos anos 80 indo para 90 deve ter visto pelo menos 2 filmes do van-damme. digo 2 porque o cara é um desses astros de filmes de ação tipo chuck norris, arnold sujacueca, steven seagal, etc. e é impossível ter passado este período sem ter visto estes filmes b. quem não se lembra de "retroceder nunca, render-se jamais" ou "o grande dragão branco"?

bom, a sacada do filme é exatamente este universo pop-brega-80. sim, o filme é todo metalingüístico e tira sarro da figura de van-damme, mas vai além.

normalmente filmes metalinguistico em que o personagem é o próprio ator não são muito comuns. lembro-me de john malkovich em "quero ser john malkovich" e julia roberts em "doze homens e um segredo". mas neste filme eles pegaram o histórico que nada serve de exemplos para as criancinhas de um astro em decadência (péssimos filmes, drogas, mal relacionamento familiar) e criam um filme no mínimo risível.

primeiro é van-damme falando francês, o que não deveria ser estranho já que o cara é belga. mas o cinema americano nos propõe há tanto tempo o absurdo de que o mundo inteiro fala inglês que ouvir van-damme falando a sua língua soa surreal.

a direção, por vezes, brinca com a linguagem. em um primeiro momento temos climas de cinema europeu com longos tempos mortos, frases deslocadas e que não cabem na clássica dramaturgia do "costurar para dentro", planos-sequências que estúdios americanos mandariam cortar na hora da filmagem. em outro momento, há toda tensão própria dos americanos: edição muito rápida, trilha sonora melosa, piadas pitorescas.

mas a melhor cena do filme é um monólogo surreal que van-damme faz no meio do filme, sem cortes, um reflexão a la bergman sobre si próprio e sua condição no universo do star-system.

como já havia lido em uma crítica e reitero aqui: o melhor filme de van-damme.

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quarta-feira, dezembro 31, 2008
 
:: um filme por dia

como resolução de ano novo, decidi assistir a um filme por dia. tenho andado em falta com o cinema por vários motivos. 1. depois de estudar o negócio, a gente fica meio de saco cheio. 2. odeio as filas de cinema tipo unibanco, cheio de pseudocineastas e tristes críticos de cinema. 3. o cinema em si é caro. 4. as séries de tv estão mais interessantes a cada dia. 5. tenho me interessado muito mais por música.

mas 2009 será diferente. vou pegar o monte de filme que tenho em casa e assistir. vou ver se consigo resenhar alguma coisa e vou postando por aqui. é mais para registro para que não alugue ou baixe o filme duas vezes.

feliz ano novo!


quinta-feira, outubro 30, 2008
 

:: Pode ir armando o coreto e praparando aquele feijão preto...


Eu tô voltando!


Novidade boa: vou passar uma semana em Sampa em novembro! Eu e Alice. Presente de aniversário que ganhei do maridão, esse ser incrível. É pro casamento de um par de amigos do peito, desses de já faz tempo. Amigos de escola casando entre si, sabe? Adoro! E eu estava MORRENDO DE TRISTEZA de perder a festa. Ia ser madrinha e tudo, imagina a dor de estar longe numa hora dessas. Aí, quando eu já estava conformada, veio o presente. Alegria, alegria!

Então tem o casamento, e tem um monte de gentes que eu quero  encontrar. Pouco mais de 2 meses aqui e as saudades já são descomunais. Fora que a Alice tem um milhão de truques novos, e fala!, as pessoas queridas não podem perder essa fase tão absurdamente fofa em que ela está.

Então ver a família vai ser muito bom. Ver os amigos também. Conhecer ao vivo as amigas de blog também, beliscar a barriguinha grávida da Ri idem, coçar as orelhas da Lana e do Chicão, tomar sol, comer a comida da Vanda, vai ser tudo muito bom. Mas, prestem atenção: eu vou rever A MINHA DEPILADORA, gente! A pessoa que possivelmente me conhece melhor, biblicamente falando, do que todo mundo nessa vida! Isso sim é um luxo!!! Vou voltar pra Paris depilada (até a última ponta!) e de unhas feitas, vai ser a glória!

Porque aqui não tem a menor condição. Primeiro: é tudo muito caro (40 euros a “bresilienne” – façam as contas...). Segundo: com que cara eu vou pedir pra uma francesa brava, armada de cera quente até os dentes, pra “cavar um pouquinho mais”? Como vou avisar se a cera estiver pelando? Como vou dar gritos de dor e praguejar livremente diante uma pessoa que eu não conheço? Não dá. Há que se ter muita intimidade numa hora dessas. Não quero uma pessoa estranha, mal humorada e rabugenta me pegando nas partes, deve dar até azar. Eu sou fiel: depiladora é só uma na vida. Eu já tenho a minha, sou muito feliz com ela e permanecerei leal e intocada por mão alheias até a volta ao Brasil. Até lá, vou me virando com meu Satinelle e folhinhas de cera fria mesmo. E só até onde a vista alcança, se é  que vocês me entendem. Me falta coragem pra, digamos, ir mais a fundo na questão.

 

(E depois de toda essa reflexão, começo a entender por que, de fato, o maridão me deu essas passagens...)




quarta-feira, outubro 15, 2008
 
:: Domingo no parque


Parc de Bercy, 25 de Setembro, umas 4 da tarde.



(E isso aconteceu depois de uma sonequinha boa, Alice no carrinho e eu e Carlos na grama. Ê vida.)



terça-feira, outubro 14, 2008
 
:: Outoninho delícia 



(Delícia nada, tá um frio do cacete. Mas que é bonito, isso é.)





sábado, outubro 11, 2008
 
:: Aniversário

Reparem: foi a pessoa fazer 29 anos e a letra do blog cresceu.

Medo.




sexta-feira, outubro 03, 2008
 
:: Meu ex-futuro promissor


Então eu era uma guriazinha que lia compulsivamente tudo que caía na minha mão. Uma pequena intelectual. Gozei (até hoje, provavelmente) da fama de ter lido Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos aos 10 anos de idade - uma mentira espetacular. Mas li um bocado de Rubem Fonseca desde lá até agora. E escrevi redações que foram elogiadas. E ganhei uma medalha de plástico num concurso entre escolas, por conta de uma redação que contava que quando eu era pequena queria pintar um bigode pra ir na festa junina, como meu irmão e meus primos.

Então mamãe dizia que eu ia ser escritora - e eu queria ser veterinária.

Minha mãe insistiu pra eu ser escritora, mas eu prestei vestibular pra rádio e tv. Passei, cursei, me formei, trabalhei um bocado de anos na MTV e mais alguns em outras produtoras por aí. Aí deu bode.

Minha mãe falou pra eu virar escritora, mas eu fui fazer faculdade de gastronomia pra virar chef. E a faculdade era uma diversão louca mas eu percebi que não tenho o menor talento pra chef. 

Minha mãe então sugeriu que eu virasse escritora, mas fui estudar café. Aprendi a cheirar, fazer degustação-cega, diferenciar as espécies, contar os defeitos dos grãos crus. Fui fazer um mini-estágio numa fazenda em Minas, comi o fruto do café bem docinho, vi a florada, linda branca perfumada. E fiz curso de barista, e fui trabalhar atrás do balcão do Havanna oito horas e meia por dia, seis dias por semana, ganhando mal. Minha mãe, coitada, pensava assim: minha filhinha estudou tanto (oi, mãe?), fez boas escolas, se formou na USP, e tá aí queimando a mão na máquina de café e esfriando na pia de lavar louça. Por que não virou escritora, por quê??

Então eu engravidei, enjoei horrores com cheiro de café, pedi demissão e virei mãe em tempo integral. Vivendo essa fase maluca, resolvi alimentar esse blog das experiências todas da maternidade. 

E o blog começou a me divertir. E divertir outras pessoas. E rendeu uma indicação de uma amiga querida, e por conta da indicação um convite pra se associar a um portal feminino, pra ser o "blog da mamãe" linkado ao site. E esse novo blog vai muito bem, me divertindo horrores e me dando de presente um monte de gente legal. Minha mãe dá pulinho de alegria e orgulho e eu, tadinha, entro nos delírios dela e das minhas amigas que falam que eu tenho que escrever um livro e penso, puxa!, sou praticamente uma escritora, quem sabe eu não posso de fato viver disso um dia?


Corta. 


Acabei dia desses,  à 1h da manhã, o "Reparação", do Ian McEwan. Chocada, passada, arrebatada. Emocionadíssima, o coração aos pulos.

Caralho. CARALHO.

Isso é escritor, mãe.  Sua filha é um arremedo chinfrim de cronista engraçadinha, e olhe lá. 

Esse cara sim é escritor. 

Caralho.

(Eu podia continuar com esses "caralhos" por horas, pra desgosto da minha mãe, haha... mãe, um verdadeiro escritor teria algo mais a dizer além de "caralho", pode apostar!)


Então people, larguem esse blog besta e corram pra ler Reparação agora, já! É sério! (Menos a parte do "larguem o blog", isso me deixaria arrasada...)



quarta-feira, outubro 01, 2008
 
:: Dos pitos


Os parisienses são bravos à beça. Por alguma razão que me escapa, passam a vida a bufar. Sério. Nada é mais típico num francês do que isso. Esqueçam boina, cachecol, baguete no sovaco. Se você realmente quer se misturar com eles o negócio é sair bufando mal-humoradamente.

Em menos de um mês aqui eu  já tinha tomado umas broncas cabulosas. De gente que não me conhece, atenção. Vou fazer uma pequena compilação dos pitos mais notáveis até aqui:

* Primeiro a zeladora do prédio me passou um sabão. Com razão, admito. Na confusão de entrar com o carrinho, eu esqueci a chave espetada do lado de fora da porta de entrada. Ok, eu fui idiota e uma coisa dessas não se faz. Mas gente! Dá um desconto, pô! Estrangeira, perdida, sem falar a língua, chegada há apenas duas semanas, ainda um pouco atrapalhada e com um bebezinho adorável à tiracolo. Fora o sorriso simpático, o ar humilde e aquela malemolência brasileira que pra tudo dá um jeito. Pois não deu jeito: tomei uma bronca federal. A mulher falou comigo como se fosse minha mãe - e digo isso simbolicamente, porque a minha mãe brigaria comigo uns 3 tons abaixo daquilo. Ela bufou (óbvio) sacudindo as chaves na minha cara, falou uma dúzia de coisas, me mandou um olhar de "é patza?" e saiu. Ui que nervios! E assim fui introduzida à rispidez francesa.

* Depois tomei uma bufada de um mendigo que dormia na rua. Um mendigo invisível. Não estou falando de invisibilidade social nem nada sociológico do tipo, ele estava invisível de fato, enfiado no meio de uns panos, embaixo de caixas, encostado em uma coluna de concreto. Fez seu cafofo na frente da vitrine de uma "galeria de pequenas invenções" (adoro!), e me bronqueou porque eu falei OH! para alguma maluquice ali e devo tê-lo acordado - eram umas 11 da manhã. Não bastasse tomar a bronca, ainda tomei um susto espetacular com aquela pilha de papelão resmungando em alto e bom som.

* Aí teve o motorista gentil. Eu estava esperando na faixa pra atravessar a rua e ele vinha vindo devagar. O farol estava aberto pra ele, então esperei (pedestre formada e graduada em São Paulo, gente! Sou doida?). Como eu não ia, ele ficou puto e me mandou um "anda, caralho!" em francês, acenando com mão pra eu passar depressa porque ele educadamente estava me dando passagem. Ah tá. Gentileza à francesa. Merci meu senhor, e vá-te a merda.

* Por fim, a melhor de todas. Essa, felizmente, não foi dirigida a mim. O alvo do pito, pasmem!, foi Alice. A autora do pito, double-pasmem!!, foi uma guriazinha de uns 2 anos de idade. Foi na primeira vez que fomos no tanquinho de areia. Alice estava sentadinha, de baldinho na mão, toda pimpona. Feliz e empolgada, estendia o baldinho pras crianças em volta, tentando fazer amizade. Numa dessas, bloqueou a passagem da menininha com o braço. Resposta: a menina deu-lhe um safanão ríspido e despejou um bocado de resmungos em cima da minha filha, dedinho em riste e tudo. Não entendi picas, of course, mas acredito que ela tenha usado termos chulos e ofendido geral. Eu fiquei olhando passada, com muita vontade de rir e de estapear a menina ao mesmo tempo. Mas aprendi que o parquinho tem uma dinâmica toda próprias e os adultos só devem interferir quando for realmente grave (vou desenvolver esse assunto qualquer dia no guiapratico...). Aquilo ali era chocante pra mim, mas grave não era - sobretudo porque Alice também não entendeu nada, não se ofendeu e nem amarelou. Na verdade ela nem percebeu a bronca, de tão embasbacada que estava com aquela areia toda. Que é o que eu vou fazer de agora em diante. Embasbacar. Dar migué. Ficar com cara de sonsa a cada bronca que tomar, hein?, pardon, é comigo? Porque alguma vantagem a gente tem que ter de não entender a língua  - e a braveza - desse povo.